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sexta-feira, 20 de março de 2009

Dakar: Fim da Primeira Parte

O título parece um bocado fora de época, mas trata-se de um conjunto de crónicas do Expresso, que tenho seguido desde o início, e que chega agora ao fim da primeira parte. Joost De Raeymaeker segue as cidades e pistas visitadas antigamente pelo Rali Dakar, em busca das diferenças do antes e pós Dakar.

"Um mês depois de sair de Lisboa, estou na antiga meta do Rally Dakar, ao lado do Lac Rose. Em vez de carros, motos e camiões, encontro vendedoras de bonecas e vendedores de cornos. Ao lado do lago há sacos de sal à espera de um transporte qualquer. De vez em quando pára um taxi com alguns turistas, e o enxame de vendedores esquece-se temporariamente de mim. Aqui termina simbolicamente a primeira parte da minha viagem. Em Dacar, o rally não parece fazer muita falta. É uma cidade cosmopolita, que acorda verdadeiramente à noite, quando os contagiantes ritmos senegaleses fazem vibrar imensas clubes e discotecas, onde muitas vezes se pode ver pessoas como Youssou Ndour ou Baaba Maal ao vivo. Os que sofreram mais com o abandono (temporário?) do circo do desporto motor são decididamente os mauritanos do interior, onde o turismo morreu completamente.

Nasceram algumas iniciativas alternativas, umas delas até melhores em termos de sustentabilidade local, mas até agora, não foi possível desfazer o mal feito pelo tão público anúncio do cancelamento do famoso rally no continente africano.
A partir daqui, a meu percurso de regresso a Lisboa segue pelo Mali, pelo Niger e pela Argélia, seguindo parcialmente o rio Niger e subindo depois pelo meio da imensidão do deserto do Sara no norte do Niger na Argélia até Argel, onde espero apanhar um barco em direcção à Espanha. Dalí para casa é muito rápido, comparado com os transportes que apanho por cá. Para fazer os 250 km entre Dacar e Saint Louis, foi preciso apanhar vários autocarros. Como cristão ocidental ignorante, não sabia que o Profeta Maomé fazia anos no dia da minha viagem entre as duas cidades. No Gamou, toda a gente desloca-se a Tivaouane, a meio caminho. No Senegal, o islão tem aspectos de crenças locais -por todo lado vêem-se imagens de marabouts, um tipo de santos/curandeiros-, e em Tivaouane, há um importante, que toda a gente vai ver neste feriado.

Não menos importante é Ndaga Ndiaye, um homem que ficou rico com uma imensa frota de mini-autocarros. Tinha tantos, que o meio de transporte foi baptizado com o seu nome. Existem de várias formas, os mais comuns são brancos e há outros de amarelo e preto, mas todos têm sempre o nome da empresa e mais algumas coisas -às vezes uns olhos à frente- pintadas no que sobra da carroçaria. Foi num Ndaga Ndiaye que fiz a segunda parte da viagem, entre Tivaouane e Dacar. Percorremos 110 km em seis horas. Não é que o Ndaga Ndiaye não seja capaz de andar depressa -às vezes até acelera um pouco-, mas pára tantas vezes pelo caminho, que acaba por nem chegar à velocidade média de um bom corredor de maratona. O processo é o seguinte: O motorista buzina quando vê algumas pessoas na estrada, as pessoas fazem sinal ao cobrador, que bate na carroçaria. O motorista pára e depois buzina outra vez. Se toda a gente tiver subido, o cobrador bate outra vez na carroçaria, e o motorista arranca. Este ciclo de buzinadelas e de batidelas no "transport commun" repetiu-se tantas vezes pelo caminho, que foi com bastante alívio que me refastelei num saco de palha no meio das cabras na estação rodoviária de Rufisque, à espera do um amigo de longa data."

Além do relato e fotos, podem ser “quase vividas” as peripécias de quem viaja de mochila às costas, em transportes públicos e boleias pelo norte de África.

Pode ser seguido aqui:

Órfãos do Dakar

Fonte: clix.expresso.pt

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